prurigo-estrófilo-825x542

Picada de inseto: seu filho tem alergia?

Picada de inseto pode ser um problemão para crianças de pele sensível. Essa sensibilidade que aparece na infância recebe o nome de prurigo estrófilo ou urticária papular, e é sobre ela que vamos falar hoje.

É muito comum na prática clínica ouvirmos as mães se queixarem que a criança recebeu apenas uma picada de inseto e que deu alergia no corpo todo. As lesões costumam incomodar muito pela coceira que produzem e é muito comum deixar marcas na pele após um certo tempo de evolução.

Mas quem pode ter essa sensibilidade aumentada para picada de inseto?

Os candidatos ao prurigo estrófilo são sempre crianças, na faixa etária entre 2 e 10 anos. O quadro nunca aparece antes dos 6 meses, pois são necessárias várias picadas para haver sensibilização.

Quadros mais leves podem se iniciar entre 12 e 24 meses, e a tolerância ao quadro se desenvolve em torno de 10 anos.

Como é a lesão de picada de inseto?

A picada de inseto costuma ter uma apresentação clássica: lesões elevadas (que não estão no mesmo nível da pele), avermelhadas, geralmente aos pares (mais de uma lesão junta) e que geralmente se encontram em uma mesma linha imaginária.

O número de lesões é habitualmente variável e a picada mais inflamada, avermelhada, costuma se resolver em algumas horas, deixando uma picada de inseto residual que pode demorar até de 4 a 6 semanas para resolução completa.

Além dessa picada de inseto clássica, podem também haver lesões com crostas na superfície (parece um machucadinho), assim como lesões com bolhosas, apresentação incomum.

Quais insetos podem provocar o quadro?

Mosquitos, pulgas, carrapatos e quaisquer outros insetos que utilizam sangue para se alimentarem.

Quais são os locais mais acometidos por picadas de insetos?

As regiões expostas sem roupas são disparadas as mais acometidas. Para mosquitos e pernilongos, antebraços e pernas são as regiões  preferidas.

Lesões em tronco ou na linha divisória de roupas (como linha da fralda, cueca ou calcinha. da meia ou da calça) são mais associadas a pulgas e percevejos. Nesses casos, geralmente aparecem de 2 a 3 picadas em linha próximo a essas regiões citadas.

No geral, independente de qual picada de inseto, são encontradas poucas lesões em face, raras lesões em plantas dos pés, palmas das mãos e axilas, e não são encontradas lesões na região de genitais e perianal.

Como evoluem essas lesões?

Como dito anteriormente, as lesões ficam bem vermelhas nas primeiras horas após picadas. Após esse tempo, elas reduzem e podem durar de 4 a 6 semanas. Se a criança coça a picada de inseto, pode haver escoriações e casquinhas.

Após essas 6 semanas, fica uma manchinha que pode ser mais clara ou mais escura no nível da pele, que pode demorar alguns meses para apresentar resolução espontânea. Algumas crianças mais sensíveis podem ter o corpo todo manchado dessas lesões.

Tenho certeza de que meu filho não levou várias picadas mas o corpo está todo manchado, como isso é possível?

A maioria da lesões aparece alguns dias após a picada do inseto. Como é uma reação alérgica, 1 contato na semana é considerado suficiente para manter várias lesões. Como cada lesão dura até de 4 a 6 semanas, poucas picadas são suficientes para manter a criança sempre “empolada”, como as mães costumam dizer.

Como então prevenir as picadas?

1- Medidas mecânicas: mangas longas e calças compridas são sempre bem vindas quando a temperatura permitir. Roupas finas e transparentes permitem picada de inseto através das mesmas

2- Telas em janelas e portas

3- Mosquiteiros na cama: conferir se há furos ou insetos dentro antes de colocar a criança. Borrifar permetrina para aumentar eficácia. (nome comercial disponível no Brasil Exposis para uso em tecidos- durabilidade de 72 horas após cada aplicação).

4-No caso do mosquito Aedes, lembre-se que ele tem hábitos previsíveis: no nascer o pôr do sol manter janelas fechadas e evitar atividades da criança ao ar livre nesse horários. Se for o único horário disponível para brincadeiras, proteger a criança com roupas e repelentes.

5-Ambientes com ar condicionado são eficazes na prevenção.

6-Para insetos outros que não pernilongos, dedetização por empresa especializada é desejável.

7- Repelentes elétricos de tomada podem ser usados, desde que colocados próximos à janelas e portas, sendo obrigatória distância do local de sono da criança de 2 metros. Não se esqueça que crianças são muito curiosas e que podem ingerir o líquido desses protetores de forma acidental, portanto, posicione longe do alcance das mesmas.

8- A clássica recomendação de limpeza do terreno, lotes vagos, retirada de lixos e entulhos é mais do que válida e necessária.

9-Tratar animais de estimação com orientação de veterinário. Pulgas são o principal inseto a ser combatido, mas não podemos esquecer de carrapatos e outros insetos.

10- O uso de vitamina B1, a tiamina, nos meses de verão, apesar de muito propagado, ainda carece de mais estudos para sua indicação como prevenção.

11- Repelentes: usar sempre que for realizar passeios em locais sabidamente de risco para picadas de insetos, como sítios, chácaras, praias, fazendas e locais com vegetação mais abundante, como parques. Nunca utilizá-los para dormir ou por períodos prolongados. Acessem outro artigo sobre o tema para aprofundar no assunto caso tenham interesse: https://webapp275736.ip-45-79-11-215.cloudezapp.io/repelentes-em-gestantes-e-criancas/

Orientações gerais sobre repelentes:

  • Nunca aplicar na mão para a criança espalhar. A criança pode levar o produto para boca e olhos gerando reações indesejáveis.
  • Aplicar na quantidade e intervalo que o fabricante recomenda
  • Nunca aplicar próximo à boca, nariz e olhos, assim como regiões em que a pele esteja machucada.
  • Após uso, dar banho na criança com água e sabão para retirar o produto
  • A criança não deve dormir com repelente
  • Locais com temperatura ambiente > 30oC exigem reaplicações mais frequentes, como recomendado pelos fabricantes
  • Evitar repelentes com hidratante ou protetor solar, por reduzir efeito protetor de ambos. Aplique primeiro o filtro, e 30 minutos após o repelente.
  • Loções cremosas e gel são os veículos mais seguros para uso em crianças e devem ser preferidos ao spray.

12- Óleos naturais: são muito voláteis e protegem por pouco tempo. De todos os disponíveis, o óleo de capim limão, na concentração de 30% tem eficácia comparável ao repelente          DEET20%, sendo considerado o mais efetivo dentre os óleos. Todos os óleos naturais podem cursar com reações alérgicas e seu uso deve ser cuidadoso

13- Pulseiras de citronela: possuem baixa eficácia e risco de alergia local.

Tem tratamento?

O tempo é o melhor tratamento. À medida que a criança envelhece vai criando tolerância até os 10 anos de idade. Mas enquanto isso, para alívio dos sintomas, existem algumas opções.

1- Loção de cânfora, calamina ou mentol: alívio dos sintomas. Suspender se irritar a pele ou arder na aplicação.

2- Corticóide de média potência para uso local: conversar com o seu pediatra para receber orientações adequadas quanto ao uso. Tem como objetivo melhorar a reação local e reduzir a coceira

3- Antialérgicos orais: conversar com o seu pediatra para receber orientações adequadas quanto ao uso. Tem como objetivo reduzir a coceira.

4- Se houver sinais de infecção na lesão, como pus, mal cheiro ou vermelhidão em aumento, o uso de antibióticos se faz necessário. O pediatra deve avaliar a lesão e definir o tratamento.

5- Corte as unhas do seu filho bem curtas. Isso minimiza os problemas quando a mesma coça a picada de inseto.
Espero ter ajudado com as dicas. Lembrando que o prurigo estrófilo é um quadro específico de algumas crianças, mas em tempos de Zika, Dengue, Chikungunya e Febre Amarela, as orientações para prevenção de picadas são válidas para adultos e crianças.

Um grande abraço e até o próximo tema!

Referência: https://www.sbp.com.br/src/uploads/2016/12/Dermatologia-Picadas-de-Inseto-Prurigo.pdf

O que deseja encontrar?

Compartilhe

Share on facebook
Share on linkedin
Share on google
Share on twitter
Share on email
Share on whatsapp