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Meu filho melhorou: posso parar o antibiótico?

Recentemente no consultório atendi um paciente com quadro de amigdalite bacteriana. Prescrevi antibiótico para um determinado período de tempo, e, com 48 horas, a criança já se encontrava 100%. A mãe então me ligou e perguntou se poderia parar o antibiótico antes do tempo, uma vez que o filho já estava muito bem.

Essa dúvida não é exclusiva dessa família, e como o uso incorreto de antibiótico é um tema muito preocupante, resolvi responder essa pergunta para todo mundo.

A primeira questão é: para que serve o antibiótico?

O antibiótico deve ser prescrito somente para quadros em que a criança esteja acometida com um quadro bacteriano. Na grande maioria das vezes, as infecções da infância são provocadas por vírus, que geralmente não possuem medicação específica.

Agora imagine as bactérias como vários ovos brancos.

Em uma infecção bacteriana da garganta, em que uma placa esteja presente na amígdala, uma quantidade enorme de bactérias estará presente naquele local.

Quando o antibiótico é iniciado, vai atuando nessa enorme quantidade de bactérias, e vai, aos poucos, matando cada uma delas.

O problema é que as bactérias não são todas iguais, como os ovos brancos que vocês imaginaram. A grande maioria delas é muito sensível ao remédio e logo serão eliminadas. Porém, algumas são mais resistentes, e precisam de maior tempo em contato com a medicação para serem destruídas.

Imagine que dentro daquela caixa de ovos, havia um ovo que não era branco, e sim marrom. Agora imagine que esse ovo marrom é a bactéria resistente.

Agora imagine a seguinte situação:

Seu filho estava com uma amigdalite bacteriana e, após diagnóstico pelo pediatra, começou a tomar antibiótico. As bactérias sensíveis (que chamamos aqui de ovos brancos) foram rapidamente eliminados, o que resultou em uma rápida melhora do quadro clínico, com melhora da dor e da febre.

Seu filho não gosta de tomar antibiótico. É sempre uma briga enorme. Ele já está melhor. Então porque não suspender logo o remédio?

E é aí que reside o perigo. Nessa altura do tratamento, após cerca de 48 horas, grande parte das bactérias sensíveis foram eliminadas. Porém, aquele ovo marrom, a bactéria resistente, continua viva. Além de viva, ela não tem a concorrência das outras bactérias que já morreram, e encontra um caminho livre para se proliferar livremente, sem remédio. E a bactéria resistente, que antes era minoria, passar a dominar o quadro

Quando isso acontece, a criança, que já estava ótima, passa a apresentar nova piora clínica, com retorno da febre e piora do estado geral. E um quadro que era para ser resolvido de forma relativamente simples, começa a se complicar.

Algumas pessoas podem alegar que suspenderam o antibiótico e nada aconteceu. E isso pode de fato acontecer, sobretudo nos casos em que um quadro viral foi erroneamente diagnosticado como bacteriano.

Outros podem alegar que fizeram tudo certo, e ainda assim houve a necessidade de troca de antibiótico. Isso acontece com muita frequência, e se deve ao fato de bactérias resistentes (ovos marrons) às vezes não responderem à medicação inicialmente utilizada.

Mas a suspensão do antibiótico antes do tempo é uma realidade que pode ser prevenida pelos pais. O tempo de antibiótico é definido por estudos científicos e varia de acordo com a doença e com o local acometido.

As inúmeras classes de antibióticos que existem hoje no mercado são o que temos de mais precioso no tratamento da infecção bacteriana. Por isso temos que ter tanto cuidado para prescrever e para usar o medicamento. As bactérias resistentes são hoje um grande problema na medicina e já existem superbactérias que não respondem a nenhum antibiótico disponível.

Quando o antibiótico for prescrito, proteja o seu filho e faça o tratamento de forma correta. Nos horários corretos. No tempo correto. Sei que muitas vezes é uma luta administrar medicamentos. Mas é para o bem dele.

Um grande abraço e até o próximo tema!

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